Algumas revistas semanais, com posições preestabelecidas, parecem tentar transformar Rhonda Byrne, a produtora de "O Segredo" em uma produtora de sorte. Mas ela é mais do que isso. Ela é competente.
Posso até discordar de pontos do filme, mas tenho que admitir que ela fez o que ninguém mais fez.
Rhonda é uma produtora australiana de TV, especializada em documentários, que tinha uma vida que julgava boa, até 2003, embora com muito estresse, algo comum para quem trabalha em televisão.
Um ano depois, as coisas começaram a desmoronar. Ela teve um colapso emocional disparado pela morte do pai. Isso desencadeou uma série de eventos, exatamente enquanto ela produzia uma nova série de TV sobre crimes, chamada Sensing Murder, apresentado por Rebecca Gibney.
A série começou a ter inúmeros problemas, logo depois da morte de seu pai. Rondha entrou em depressão, questionando sua vida, seus valores e seu futuro.
A agenda apertada de produção impedia que ela, ou sua equipe de produção, pudessem ver os amigos e as famílias. Houve uma crise entre todo o staff do documentário. Ela própria perdeu completamente a autoridade sobre a equipe. Eles não queriam mais conversar com ela, ou tratar de assuntos essenciais para o série. Tudo começou a sair errado. No trabalho e em sua vida pessoal. Era o desastre em cascata.
"Um dia eu acordei e, como era de costume, recebia um telefonema atrás do outro, refletindo a desintegração dos relacionamentos com minha equipe de trabalho e meus amigos", explicou Rhonda. "Era um dia negro na minha vida."
"Então, meu contador ligou e avisou que nós tínhamos tido tantas perdas financeiras, aquele ano, que eu estaria falida em um mês. E nós ainda tínhamos dois filmes para terminar."
"Como se não fosse o bastante, o telefone tocou novamente e era minha mãe. Viúva recente, passava os dias pensando em meu pai. Ela me disse, ao telefone, que não queria mais viver; ela sentia tanta saudade de meu pai, que viver cada dia era insuportável. Eu entendia, mas não podia nem mesmo pensar na hipótese dela não estar mais lá, comigo. Aquilo me causou pânico".
"Tudo parecia perdido. Caminhei lentamente até a sacada de casa, em silêncio."
"Foi quando minha filha, Hailey, então com 24 anos, me viu naquele estado e perguntou o que havia de errado. Quando eu terminei de recitar a minha lista de desastres, estranhei a resposta dela. Ela apenas respondeu, com calma:" "vai dar tudo certo".
"Mais uma daquelas frases que só servem de consolo, pensei. Então, ela desapareceu e voltou com um punhado de cópias, com um clips gigante, me entregou e disse apenas: "leia isso".
Hailey entregou para a mãe uma cópia de um livro de 1910, chamado The Science of Getting Rich (A Ciência de Enriquecer)
O autor, Wallace D. Wattles, acreditava que as pessoas podiam organizar seus pensamentos e usar uma tal "lei da atração" para mudar tudo em suas vidas. O livro, na verdade, é apenas um manual de auto ajuda básico, mas ele acertava em pontos que, atualmente, são usados em coaching pessoal, profissional e corporativo, sem o gosto esotérico que tinha no início.
Wattles dizia que "pensamentos negativos criavam situações negativas, enquanto pensamentos positivos criavam prosperidade".
Prestes a falir, Rhonda diz: "aquilo foi como fogo na gasolina, em mim". Era exatamente o oposto do que era a sua vida.
Ela entrou em processo de pesquisa e seguiu as trilhas do livro de
Wallace D.
Wattles, até 3 mil anos antes de Cristo. Foi quando ela viu que poderia produzir um documentário sobre isso.
O resultado:
O Segredo.
Mas, quando ela descreveu seu
projeto, ninguém se interessou. Então, ela hipotecou a própria casa para levantar fundos iniciais para
O Segredo. Depois, de uma parte concluída, ela convenceu o Canal 9, da Austrália, a entrar como parceiro, e
Rhonda viajou aos Estados Unidos para entrevistar 50 pesquisadores, a maioria
coaches (que, no filme,
não foram identificados com
coaches). Também foram feitas entrevistas com líderes esotéricos, e um religioso, para tratar do mesmo assunto, mesclando-os ao filme.
Na foto abaixo, tirada durante uma das primeiras apresentações públicas do filme, vemos o elenco de especialistas.

O resto, é uma história difícil de explicar.
Apesar de não ter nenhuma grande distribuição,
O Segredo já é o maior sucesso da história, em sua linha. Já é, também, o
DVD mais pirateado do Brasil -- o
DVD oficial,
legendado e
dublado, será lançado entre maio e
junho. Em todo o mundo, já vendeu mais de 1 milhão e meio de cópias, e continua sendo um dos
DVDs mais vendidos nos sites americanos. O livro, escrito depois de lançado o
DVD, já vendeu seis milhões de exemplares e está em primeiro lugar na lista do
The New York
TimesPor isso, acho até engraçado quando leio que ela fez uma coisa "fácil". Geralmente, os críticos que a atacam, jamais arriscariam a própria casa em uma
idéia. Muitos, não arriscariam sequer uma garrafa de guaraná, em suas próprias idéias. Jamais dariam um passo mais ousado.
Eu, certamente, teria cortado várias cenas do filme e incluído algumas explicações simples, deixando claro porque a tal "lei da
atração funciona". Mas, afinal, eu não hipotequei minha casa, não reuni uma equipe e não realizei nada. Não corri riscos.
Ela sim.
Por isso, posso até ter críticas quanto a alguns aspectos do filme, mas tenho que admitir: a coragem de
Rhonda, que já passou dos 50 anos, é muito grande. Ela podia perder tudo, quando arriscou a carreira e a própria casa.
Mas ela acreditou nas próprias
idéias. Isso, em qualquer pessoa, já é admirável.
Talvez seja interessante estudar melhor a "lei da atração". Veremos que há mais nela do que um punhado de idéias sem cabimento.
Há, ali no cerne, algumas idéias muito importantes, para aplicar à sua própria mente. E, no final, tudo o que somos está em nossa mente, e em como organizamos aquilo que existe dentro dela. Negar isso, é assumir que os gênios já nasceram gênios, e somos todos destinados a um caminho já definido, em nossas vidas.
E, se há uma mentira realmente perigosa de acreditar, é de que nosso destino já está traçado. Você escreve seu livro da vida. Você pode mudar sua própria história. Sempre.
Mesmo que o filme seja muito criticado (e será), ainda assim valerá muito mais o preço do ingresso no cinema, do que a maioria dos "blockbusters" que estão por ai.
É muito mais fácil colocar algumas dezenas de explosões, milhares de tiros e baldes de sangue, nas telas, do que exemplos positivos de vida, de relacionamento e de auto confiança.
Aldo Novak http://www.academianovak.com.br